A angioplastia coronária percutânea é um procedimento bastante comum no Brasil. Você sabe o que é? Embora muito indicado, o método ainda provoca dúvidas. Esse tratamento tem o objetivo de desobstruir as artérias do coração sem a necessidade de realizar um corte no peito do paciente, apenas com uma punção.
Ficou interessado no assunto? Os drs. Adriano Caixeta e Alexandre Hideo-Kajita, cardiologistas intervencionistas do Hospital Nove de Julho, explicam o que é, quais são as indicações e como é feito o procedimento. Saiba mais na leitura completa e fique por dentro do assunto.
O que é angioplastia coronária?
A angioplastia coronária é um procedimento terapêutico que visa à desobstrução dos vasos que irrigam o coração, as chamadas artérias coronárias. Há casos em que placas de gordura se desenvolvem nas artérias coronárias até o ponto de elas apresentarem estreitamento importante ou bloqueio, razão pela qual é necessário o desbloqueio do vaso. Assim, a angioplastia coronária tem como objetivo reestabelecer o fluxo de sangue nas artérias coronárias, por meio da colocação de um stent, malha metálica muito pequena que, uma vez colocada no local entupido, mantém a artéria aberta e com bom fluxo sanguíneo.
O cardiologista intervencionista usa uma máquina de raios X e injeção de contraste para posicionar o stent, de acordo com o local do vaso a ser tratado. O procedimento todo é realizado sem cortes, apenas pela punção de uma artéria no pulso ou na virilha do paciente com anestesia local e sedação, e chega do pulso até o coração por meio de um cateter bem fino e comprido.
Veja, a seguir, como é feito o tratamento.
Como o procedimento de angioplastia coronária é feito?
Inicialmente, o paciente fica confortavelmente deitado sob um aparelho de raios X. Em seguida, é analisado qual é o melhor lugar de acesso para que a manobra seja feita. Na maior parte dos casos, a escolha é a artéria radial direita, localizada no pulso. Depois dessa etapa, com o objetivo de proporcionar mais conforto ao paciente, são feitas anestesia local e sedação. O médico cardiologista faz a punção com o auxílio de raios X e ultrassom.
Depois, é inserido um introdutor valvulado na área de acesso para evitar perda sanguínea e contaminação. Na sequência, um cateter é introduzido até o coração. Quando a artéria e a lesão-alvo são cateterizadas, é inserido um fio-guia muito fino e, por meio dele, é utilizado um balão com o objetivo de dilatar e espremer a placa de gordura. Assim, um stent é colocado no local.
Conforme explicam os especialistas Adriano Caixeta e Alexandre Hideo-Kajita, “o stent é uma malha metálica muito pequena que, uma vez colocado no local de obstrução, mantém a artéria aberta e com bom fluxo sanguíneo. Depois, o sistema de cateteres, assim como o introdutor, é retirado e um curativo compressivo pneumático é usado para estancar o sangue (hemostasia) e evitar sangramento no local de punção. Ao final do procedimento, o paciente deve manter o uso de dupla antiagregação plaquetária, ou seja, duas medicações que são usadas juntas para afinar o sangue, geralmente, por nove a doze meses após o procedimento, a fim de manter o stent aberto e também para evitar a formação de coágulos dentro do stent".
De acordo com os médicos, “uma pergunta bastante comum dos pacientes é se há dor com a presença do cateter. Não, a manipulação do sistema de cateteres é cuidadosa e não causa dor, ainda assim, se o paciente apresentar qualquer sintoma, ele será prontamente medicado pela equipe de anestesiologia em sala".
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Qual é a diferença entre angioplastia e cateterismo?
A principal diferença entre o cateterismo cardíaco – também conhecido como coronariografia – e a angioplastia coronária é a finalidade. Veja a seguir.
Enquanto a cinecoronarioangiografia –mais conhecida como cateterismo cardíaco – é um exame diagnóstico, como a tomografia e o ultrassom, e tem como principal objetivo o estudo das artérias do coração, com enorme precisão, o que a torna, junto com outros métodos complementares, padrão ouro na detecção de obstruções nas artérias do coração, a angioplastia coronária é um tratamento. Tanto o cateterismo quanto a angioplastia coronária usam o mesmo acesso arterial e cateteres, entretanto, elas só têm essa semelhança. A angioplastia coronária tem como principal objetivo desobstruir as lesões identificadas no cateterismo cardíaco.
“No cenário atual, a angioplastia coronária tem a mesma função de uma cirurgia de revascularização do miocárdio, ou seja, a confecção de pontes de safena e mamárias, ainda que com indicações específicas, seja no infarto, seja na doença estável, é menos invasiva e pode fornecer ao paciente, quando bem indicada, todos os benefícios de uma revascularização completa das artérias do coração por meio da colocação de stents", explicam os drs. Adriano Caixeta e Alexandre Hideo-Kajita.
Os médicos dizem ainda que “vale ressaltar que o cateterismo cardíaco é um termo que corresponde a uma série de procedimentos invasivos feitos no coração. Normalmente, está relacionado com o estudo das artérias coronárias, mas, de fato, dentro da cardiologia intervencionista, há uma série de procedimentos diagnósticos que são realizados no laboratório de hemodinâmica, tanto para o estudo do músculo do coração quanto de suas válvulas, pressões, reatividade pulmonar e estudo aprofundado da estrutura funcional do coração em busca de malformações congênitas em crianças e em adultos".
Quem pode fazer o procedimento?
A indicação da angioplastia coronária não depende de idade e será feita com a avaliação do cardiologista clínico em conjunto com o cardiologista intervencionista e, em alguns casos, também contará com a análise de um cirurgião cardíaco.
Conforme explicam os médicos Adriano Caixeta e Alexandre Hideo-Kajita, “a indicação da angioplastia coronária é baseada, primeiro, nos pacientes com sintomas de quadros anginosos estáveis ou equivalentes isquêmicos; segundo, nos pacientes sem sintomas, mas com testes invasivos ou não invasivos com evidências de isquemia miocárdica, ou seja, sofrimento do coração ao esforço. Tanto no cenário de doença coronariana com na apresentação aguda ou nos casos de infarto agudo do miocárdio.
O risco do paciente também é levado em conta na hora de realizar o procedimento, que é aferido por meio de pontuação de risco, como o SYNTAX score, por exemplo. E também o perigo de desenvolver:
● Doença renal pelo uso do contraste;
● Sangramento pelo uso de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários;
● Acidente vascular cerebral;
● Óbito do paciente.
Tudo é avaliado em conjunto para oferecer o melhor tratamento e minimizar ao máximo os danos".
Quais são os riscos da angioplastia?
A angioplastia coronária evoluiu consideravelmente com o passar do tempo, tanto pela melhora do material utilizado como pelas técnicas adotadas pelo cardiologista intervencionista, assim como, hoje, os stents e os medicamentos são mais seguros. Entretanto, é um procedimento considerado cirúrgico e invasivo de baixo risco, porém, com chances moderadas a altas de sangramento.
O procedimento pode apresentar os seguintes perigos:
● Hematoma no sítio de punção;
● Perfuração arterial por fragilidade capilar;
● Sangramento;
● Alergia às medicações e ao uso de contraste iônico;
● Embolização de cálcio ou trombos;
● Insuficiência renal associada ao uso de contraste;
● Insuficiência renal crônica agudizada pelo uso de contraste;
● Acidente vascular cerebral (AVC) embólico;
● Arritmia cardíaca;
● Infarto agudo do miocárdio associado a angioplastia coronária (Tipo IV-A e -C);
● Óbito.
Como é a preparação?
Como explicam os drs. Adriano Caixeta e Alexandre Hideo-Kajita, “a preparação do paciente para a angioplastia coronária começa na avaliação ou no consultório do cardiologista clínico. Na ocasião, o paciente é previamente medicado em regime de dupla antiagregação plaquetária para a manutenção da patência do stent que será implantado, evitando, assim, a formação de trombos intrastent, e recebe tratamento clínico medicamentoso otimizado".
Caso o paciente apresente situações específicas, como o uso de anticoagulantes orais e de metformina, tenha alergia comprovada ao contraste iodado e apresente condições clínicas específicas (doença renal, hepática e/ou hematológica, câncer, sangramentos prévios com menos de três meses e sangramento cerebral), ele deve informar ao Setor de Cardiologia Intervencionista e Hemodinâmica previamente para que os cuidados necessários sejam tomados.
O procedimento não pode ser realizado em pacientes com quadros infecciosos de qualquer tipo. Quando há o uso de antibióticos, a intervenção só poderá ser feita 72 horas depois do término da medicação e com apresentação de melhora clínica. O paciente deve estar consciente e orientado.
A angioplastia coronária é considerada um procedimento cirúrgico ainda que minimamente invasivo, então, o paciente deve estar em jejum de, pelo menos, oito horas e estar com um acompanhante considerado capaz e maior de 18 anos. Vale destacar que o jejum não inclui pouca quantidade de água para a deglutição de medicações de uso contínuo.
Como é a recuperação da angioplastia coronária?
Ao final do procedimento de angioplastia coronária, o paciente pode precisar permanecer internado, a depender da avaliação de cada caso. O cuidado é necessário, principalmente nos casos de paciente com risco de sangramento; infarto; procedimentos complexos e angioplastia de múltiplos vasos; doença renal crônica não dialítica e em vigência de qualquer tipo de complicação intraprocedimento.
Na grande parte das vezes, o paciente pode receber alta ainda no mesmo dia ou cerca de 24 horas após o procedimento, nos casos eletivos.
Mesmo assim, é necessário seguir com rigor algumas recomendações de cuidados. Veja!
● Evitar esforços como pegar peso, fazer exercícios físicos e subir escadas, a depender do local de acesso do procedimento, por cinco dias.
● A liberação para as atividades físicas recreativas ou desportivas ficará a critério da avaliação do cardiologista clínico.
● Beber muito líquido, para ajudar na eliminação do contraste, caso o paciente não tenha restrições à ingestão de líquidos, como no caso de insuficiência cardíaca ou renal crônica sem diurese, por exemplo.
● Manter o uso das medicações de uso prévio, assim como dos medicamentos indicados pelo médico que fez o procedimento, no caso, o cardiologista intervencionista.
Seguir as recomendações do médico cardiologista clínico, que podem incluir:
● Cessar o tabagismo;
● Controlar o colesterol;
● Ter atenção à glicemia e ao controle do diabetes;
● Adotar dieta pobre em sal;
● Perder peso (pacientes com sobrepeso ou obesidade);
● Proceder à reabilitação cardíaca e a atividades físicas regulares, a depender da avaliação do cardiologista clínico.
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Centro de Cardiologia do Hospital Nove de Julho
O Centro de Cardiologia do Hospital Nove de Julho dispõe de atendimento completo e multiprofissional. O paciente cardiológico conta também com todo o suporte do Departamento de Cardiologia Intervencionista e Hemodinâmica, uma das mais completas e modernas do país, que realiza estudos, diagnósticos e tratamento de doenças coronárias e estruturais e tem profissionais atualizados, capacitados e proficientes nas técnicas mais recentes e inovadoras disponíveis no Brasil e no mundo, o que reduz o tempo de internação e o índice de complicações.
O departamento dispõe também de equipes de diagnóstico e intervenção vascular e neurológica, por meio de técnicas minimamente invasivas, além de médicos e enfermeiros experientes, e está pronto para atender a quadros de alta complexidade e emergências, com agilidade, 24 horas por dia.
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