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Esteatose hepática: como identificar gordura no fígado?

Tratamento adequado oferece chances de regressão do quadro
MD
Dr. Marcio Dias de Almeida - Gastroenterologista Atualizado em 11/06/2021

Você já ouviu falar sobre esteatose hepática ou, como é conhecida popularmente, gordura no fígado? Esse é um problema de saúde que acontece quando as células do fígado são infiltradas pelas de gordura. A presença de gordura no fígado é algo normal, até que o percentual alcance o índice de 5%. Depois disso, é considerado acima do esperado e deve ser tratado o quanto antes.

Neste texto, você vai entender o que é esteatose hepática, suas causas e formas de tratamento. Boa leitura!

O que é esteatose hepática?

A esteatose hepática (ou fígado gorduroso) é uma das doenças crônicas do fígado mais comuns. Ela afeta entre 25% e 35% da população. Cerca de 80% dos pacientes com obesidade têm a doença, bem como todas as pessoas que consomem bebida alcoólica em excesso, mas, nesse caso, as características da doença são diferentes.  

Apesar de a presença de gordura no fígado ser normal (por causa das taxas de colesterol, triglicerídeos e ácidos graxos), quando o volume alcança ou ultrapassa os 5%, esse percentual já está além dos índices de normalidade e precisa de tratamento. Isso porque, quando não cuidada de forma correta, pode provocar inflamação e evoluir para complicações mais graves, como hepatite crônica, cirrose hepática ou até mesmo câncer de fígado.

De acordo com o Dr. Marcio Dias de Almeida, hepatologista e responsável pela equipe de retaguarda no Hospital Nove de Julho, atualmente, essa doença é chamada de doença hepática gordurosa associada a distúrbios metabólicos. Isso reforça que a patologia está, na maioria das vezes, relacionada com alterações como obesidade, diabetes, aumento do colesterol e dos triglicérides. O sedentarismo também está intimamente relacionado com o quadro, na maioria dos casos. Acredita-se que exista também um fator genético específico, pois, menos comumente, vemos a doença em pacientes que não possuem nenhum desses fatores de risco.

A doença hepática gordurosa é hoje a maior causa de indicação de transplante nos Estados Unidos e, em breve, também será a principal causa de indicação desse procedimento no Brasil. Da mesma forma, é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento de câncer de fígado no mundo.

Tipos de esteatose hepática

A esteatose hepática pode ser classificada de acordo com a quantidade de gordura acumulada no fígado. Conheça os tipos de acordo com a gravidade.

Grau 1 – esteatose hepática leve – quando o acúmulo de gordura é pequeno.

Grau 2 – esteatose hepática moderada – são casos de acúmulo moderado de gordura.

Grau 3 – esteatose hepática acentuada – nesse caso, há um grande acúmulo de gordura no órgão. 

No entanto, é importante destacar que esses graus devem ser avaliados, pois a principal determinação de gravidade é a presença ou não de inflamação no fígado. Por exemplo, uma pessoa pode ter uma esteatose grau 3, mas não apresentar inflamação hepática, mesmo depois de muitos anos com a doença, ou seja, isso diminui o risco de evolução para outras complicações mais graves como a cirrose.

Sintomas

Em casos mais leves, a esteatose hepática, normalmente, não apresenta sintomas. Já nos quadros moderados e acentuados pode provocar os seguintes sinais:

▪ barriga inchada;

▪ falta de apetite;

▪ cansaço;

▪ dor no abdome;

▪ aumento do fígado;

▪ fraqueza. 

Em estágios mais avançados, normalmente ocorre inflamação do órgão e, consequentemente, a fibrose, que pode provocar os seguintes sintomas: 

▪ acúmulo de líquido no abdome;

▪ icterícia (olhos e pele amarelados);

▪ hemorragias;

▪ confusão mental;

▪ fadiga;

▪ queda das plaquetas sanguíneas;

▪ alterações na coagulação;

▪ mudanças no sono;

▪ inchaço nas pernas e nos pés;

▪ fezes sem cor.

Como é feito o diagnóstico de gordura no fígado?

Por se tratar de uma doença com poucos sintomas na fase inicial, com frequência, sua identificação é feita por meio de exames de rotina, laboratoriais ou de imagem. Na maioria dos casos, é detectada no exame de ultrassonografia abdominal. Depois da suspeita inicial, normalmente são realizados exames específicos de sangue para avaliar alterações no fígado, tanto aqueles que demonstram indiretamente a inflamação (enzimas hepáticas) como aqueles que denotam dificuldade no funcionamento do órgão (dosagem de albumina e exames de coagulação). 

Segundo o médico, “Deve-se complementar o diagnóstico com exames de imagem mais apurados que possam detectar fibrose e ainda quantificar a gordura presente no fígado (elastografia transitória e ressonância magnética). Também pode ser necessária a realização de biópsia de fígado em casos selecionados. Quanto mais cedo se fizer o diagnóstico e iniciarem as medidas necessárias para conter a doença, melhor a evolução, por isso, o acompanhamento médico regular com gastroenterologista e hepatologista é fundamental para o cuidado da saúde do fígado", explica. 

Como tratar a esteatose hepática?

Não há um tratamento específico, devendo-se levar em consideração as condições que contribuem para a doença em cada indivíduo. No entanto, uma vez avaliado e definido pelo médico o método terapêutico adequado e o paciente segui-lo corretamente, existem grandes chances de o quadro se estabilizar, com diminuição das consequências da doença. Mesmo quando a enfermidade evolui para cirrose ela pode ser controlada antes de apresentar complicações maiores.

Há duas drogas disponíveis, hoje, que podem ser utilizadas para casos selecionados: a pioglitazona (medicação utilizada para o diabetes) e a vitamina E.

Além disso, qualquer tratamento indicado estará sempre associado à adoção de um estilo de vida saudável, que inclua orientação dietética, controle do peso, prática de atividades físicas aeróbicas regulares e controle dos fatores que predispõem a doença e que estejam presentes em cada caso, como o diabetes e o aumento do colesterol e dos triglicérides, enfim, a chamada síndrome metabólica.

As orientações de dieta para a esteatose hepática são baseadas na diminuição da ingestão de gorduras ruins, bem como de carboidratos de alto índice glicêmico (refinados), e no aumento do consumo de alimentos que contribuam para a perda de peso, além da redução da ingestão de bebidas alcoólicas.

No momento, existem várias drogas sendo estudadas para o controle e o tratamento da doença. Tais drogas têm como principais mecanismos de ação a diminuição do acúmulo de gordura no fígado, a redução da inflamação e, consequentemente, da evolução para a fibrose. A tendência é que, quando aprovadas para uso, o que deve ocorrer nos próximos anos, sejam utilizadas duas ou até três medicações simultaneamente para coibir esses vários mecanismos da doença.

Considera-se que a doença hepática gordurosa é uma patologia controlável, e esse controle depende da aderência do paciente às medidas recomendadas pelos especialistas.

Vale salientar adicionalmente que a doença também está presente nas crianças, portanto, um estilo de vida saudável desde a infância certamente contribuirá para a diminuição da ocorrência dessa patologia no futuro.

O transplante de fígado é recomendado para casos em que há complicações irreversíveis da doença que comprometem a saúde e a qualidade de vida do paciente, como o câncer de fígado.

Escrito por
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Dr. Marcio Dias de Almeida

Gastroenterologista
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