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Gastroenterologia

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Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs): entenda o que é, quais são as causas e tratamentos da doença

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Equipe Hospital Nove de Julho - Corpo Clínico Atualizado em 26/06/2024

Você tem dores abdominais e diarreia há mais de quatro semanas? Se a resposta for sim, é bom saber que estes podem ser sintomas das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs).

Trata-se de um conjunto de doenças que acometem especialmente os intestinos tais como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, por exemplo.

De acordo com o gastroenterologista clínico Dr. Daniel Machado Baptista, coordenador do Centro de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital Nove de Julho, são doenças crônicas que causam inflamação dos intestinos em intensidades variadas, em pacientes geneticamente predispostos. "As DIIs podem causar dores ou distensão no abdômen, diarreia com sangue e emagrecimento, prejudicando a qualidade de vida do paciente", afirma o médico.

As doenças costumam acometer principalmente jovens adultos, entre 20 e 40 anos, mas também ocorrem em crianças e idosos. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental, quando o tratamento bem instituído tende a ser mais eficaz. Além disso, é necessário um acompanhamento regular por uma equipe especializada e multiprofissional.

O Centro de Doenças Inflamatórias Intestinais do Nove de Julho oferece a possibilidade de o paciente concentrar todo o seu cuidado em apenas um lugar. O centro conta com equipe ambulatorial multidisciplinar especializada, centro diagnóstico para realização de exames, prontuário unificado e digitalizado, centro de infusão, equipe de apoio para requisição de medicamentos de alto custo, além de unidade dedicada para doenças raras (incluindo as DIIs), com enfermagem especializada.

Sinais e sintomas

Além das dores abdominais e da diarreia, outros sinais e sintomas mais importantes são presença de sangue nas fezes, emagrecimento e cansaço. O surgimento de orifícios com saída de pus (fístulas) próximo ao ânus chamam atenção para a possibilidade de doença de Crohn. A doença também pode levar a manifestações extra-intestinais, como aftas na boca, olho vermelho, dores articulares e lesões na pele.

DIIs mais comuns e suas características

São a doença de Crohn e a Retocolite ulcerativa. A primeira pode acometer da boca ao ânus, costuma inflamar toda a parede do órgão e ter um caráter salteado, com áreas doentes e áreas saudáveis no trato gastrointestinal. É comum a presença de complicações como estenoses, fístulas e doença perianal.

Já na segunda há uma inflamação intestinal que começa no reto e se estende pelo intestino grosso. Apesar da inflamação ser mais superficial, acometendo principalmente a mucosa, pode evoluir para um quadro grave denominado colite fulminante, que pode exigir a retirada de todo o intestino grosso.

Causas das doenças

As DIIs são doenças de causa imune que têm componente genético, geralmente poligênico, ou seja, diversos genes participam da predisposição à doença. Quando são precoces e graves, podem ter hereditariedade mais pronunciada, com um ou poucos genes alterados.

A exposição ambiental parece ter papel no desenvolvimento das DIIs, mas ainda não se pode atribuir um hábito alimentar ou de vida específico ao seu surgimento. Na maioria das vezes são idiopáticas, ou seja, sem uma causa única e definida conhecida.

Diagnóstico

O diagnóstico não é feito por um exame isolado, mas sim por uma soma de sintomas referidos na história do paciente, sinais avaliados pelo exame físico, além de alterações observadas nos exames complementares.

A presença de inflamação intestinal visualizada por exame endoscópico ou de imagem é fundamental. Estes métodos também excluem outras patologias como o câncer do intestino, sendo as biopsias fundamentais para isto.

Exames necessários

Os exames mais usados são:

  • exames de sangue para avaliar anemia, inflamação ou déficit nutricional (hemograma, proteína C reativa, velocidade de hemossedimentação, perfil de ferro, dosagem de vitamina B12);

  • os exames de fezes para avaliar sangramento ou inflamação intestinal (sangue oculto nas fezes, presença de hemoglobina humana nas fezes e calprotectina fecal);

  • exames endoscópicos para visualizar inflamação intestinal e permitir a obtenção de biópsias para análise (endoscopia digestiva alta, enteroscopia e colonoscopia);

  • os exames de imagem (tomografia e ressonância, associados ou não ao protocolo de enterografia), para avaliar o intestino delgado principalmente.

A colonoscopia é um dos principais exames, pois permitir avaliar o final do intestino delgado e todo o intestino grosso, sendo solicitada na presença de sinais e sintomas de alarme que sugiram tais doenças.

Tratamentos

O tratamento é sempre individualizado. Ele pode ser feito com medicamentos, cirurgias, terapia nutricional e até transplante de medula óssea em casos selecionados.

A ideia é aproveitar a chamada janela de oportunidade, ou seja, o momento em que a doença pode ser tratada, evitando complicações a longo prazo.

​​​​​​Medicamentos indicados

Podem ser usados corticoides, antibióticos, anti-inflamatórios tópicos (derivados do ácido 5-aminosalicílico como mesalazina e sulfassalazina), imunossupressores (azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato ciclosporina), imunobiológicos (infliximabe, adalimumabe, golimumabe, certolizumabe, vedolizumabe, ustequinumabe), além da nova terapia com pequenas moléculas, representada pelo tofacitinibe. Os medicamentos não curam a doença. Sua função é induzir e/ou manter o intestino sem inflamação, agindo em vias específicas.

​​​​​​Cirurgias

As cirurgias são muitas vezes necessárias ao longo da vida dos pacientes por conta das complicações da inflamação intestinal não controlada, como abscessos, fístulas, estenoses, doença perianal e colite fulminante.

Um dos objetivos atuais é evitá-las com tratamento medicamentoso precoce e adequado. No passado, acreditava-se que a retirada completa do intestino grosso seria uma terapia curativa para a retocolite ulcerativa.

Hoje sabemos que, mesmo estes pacientes, podem ter complicações após tal procedimento. É frequente a confecção dos ostomas, a popular “bolsinha”, que podem ser transitórios ou permanentes. Caso o paciente seja submetido à retirada de uma grande extensão do intestino delgado, pode haver risco de síndrome do intestino curto.

​​​​​​Acompanhamento por equipe multiprofissional

As DII são doenças sistêmicas, ou seja, afetam principalmente o intestino, porém, geram inflamação em outros sistemas e órgãos. As chamadas manifestações extra-intestinais são frequentes e podem acometer olhos, cavidade oral, pele, fígado e articulações. Daí, a importância do acompanhamento multidisciplinar com oftalmologistas, dentistas, dermatologistas, hepatologistas e reumatologistas.

Além disso, o impacto dos sintomas na qualidade de vida e no trabalho são significativos, assim, psiquiatras e psicólogos são fundamentais no seguimento destes pacientes. Nutrólogos e nutricionistas orientam dietas adequadas, que em geral não devem ser muitos restritivas. No paciente operado com ostomias, a popular "bolsinha" coletora de fezes, e com feridas complexas na região perianal, o papel das enfermeiras no aconselhamento também é altamente relevante.

Prevenção

Infelizmente, não há prevenção e sim alerta para sinais de alarme com diagnóstico e tratamento precoces. Hábitos de vida saudável, como consumo moderado de álcool, interrupção do tabagismo, prevenção de obesidade, combate ao sedentarismo e estímulo à prática de atividades físicas, além de consumo de alimentos não processados, favorecem o melhor controle dos sintomas nos pacientes acometidos.

​​​​​​Fertilidade e DIIs

A importância da atualização do calendário vacinal e a discussão sobre fertilidade e planejamento familiar devem fazer parte de toda consulta de paciente com DII.

Mulheres devem ser orientadas a engravidar com doença em remissão, pois a doença ativa aumenta o risco de parto prematuro e de baixo peso ao nascer. Se apenas um dos pais tiver DII a chance de o filho ter é de apenas 5%. No caso de ambos aumenta para mais de 30%.

Confira os episódios da websérie de Gastroenterologia sobre:

Síndrome do intestino irritável - com o Dr. Daniel Baptista

Doença de Chron - com o Dr. Matheus Azevedo

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