Na sociedade atual, mais do que nunca, os adultos, os adolescentes e até mesmo as crianças buscam atingir uma imagem corporal que consideram ideal. As redes sociais, recheadas com belas e inspiradoras fotografias pessoais (que agora são divulgadas para o mundo), têm contribuído significativamente para isso. São inúmeros os fatores socioculturais que contribuem para enfatizar o valor atribuído à magreza. Hoje, estima-se que 60% da população faz ou já fez uma dieta alimentar durante algum período da vida – essa pode ser a razão pela qual a incidência dos distúrbios alimentares tem aumentado.
Saiba diferenciar os dois principais transtornos alimentares
Anorexia e bulimia são, provavelmente, os exemplos mais conhecidos de transtorno alimentar. Apesar de ambas envolverem uma busca patológica pelo “corpo perfeito", são bastante distintas entre si. Confira suas particularidades a seguir:
Bulimia
O sofrimento bulímico nem sempre é evidente para os demais, uma vez que pode não envolver acentuada perda de peso ou uma magreza considerada preocupante. Na bulimia, se intercalam a obsessão e a preocupação com o emagrecimento e, ao mesmo tempo, um desejo irreprimível em relação à comida. Assim, o paciente passa por períodos de restrição alimentar e dietas rigorosas alternadas com a compulsão alimentar seguidas por vômitos induzidos por ele mesmo.
Normalmente, quem sofre de bulimia tem a obsessão de acumular ou guardar comida em lugares “secretos" para consumo posterior, quando não houver ninguém por perto. A voracidade com a qual os alimentos são ingeridos é seguida por um alívio temporário da ansiedade e, logo depois, por um enorme sentimento de culpa.
“Esse sentimento de culpa, por sua vez, leva a novas dietas rigorosas e restritivas, que se iniciam como consequência do comportamento purgativo, como indução de vômitos, e, por fim, ao uso de diuréticos e laxantes", pontua o Dr. Nikolas Friedrich Karl Heine, chefe de equipe da Psiquiatria do Hospital 9 de Julho.
Anorexia
A anorexia geralmente se manifesta ainda no início da adolescência. Muitas vezes o gatilho desse distúrbio é o início de uma dieta, em busca de eliminar um sobrepeso mais ou menos evidente, mas que não cessa mesmo quando um peso razoável é atingido. Apesar disso, emagrecer continua sendo o principal objetivo desse paciente, até que seu peso esteja muito abaixo do ideal para sua idade e altura.
Vale destacar que a anorexia é um distúrbio tipicamente feminino, considerando a significativa diferença na prevalência de gênero no que diz respeito à manifestação da doença, embora afete, em menor proporção, também adolescentes do sexo masculino.
“O sintoma central é uma distorção da imagem corporal, uma espécie de alucinação perceptiva sobre o corpo. Tanto no sentido visual como nos demais sentidos, o indivíduo tem para si um volume corporal maior que a realidade provém", reforça o especialista.
Sinais de alerta que podem marcar um quadro de anorexia
Se você é pai, mãe ou responsável por um filho que está passando pela adolescência – especialmente se ele costuma apresentar sentimentos de frustração em relação ao próprio corpo – é imprescindível estar atento aos possíveis sintomas da anorexia nervosa, para saber reconhecer o quadro corretamente e intervir assim que possível.
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O principal sinal de alerta da anorexia é a perda de peso acentuada, sempre relacionada com um emagrecimento rápido e injustificável.
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Outro sintoma clássico é o medo intenso de engordar, mesmo quando se está com um peso considerado abaixo do mínimo normal. Por causa disso, a pessoa começa a rejeitar alimentos, alegando que está sem fome ou que já comeu.
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Há também a alteração na percepção e avaliação do próprio corpo: a pessoa não reconhece a gravidade da sua condição de baixo peso e continua se vendo no espelho de uma forma que não condiz com a realidade. Aqueles ao seu redor a acham cada vez mais subnutrida, mas ela segue se achando “gorda".
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Há um consumo exagerado de pílulas dietéticas, inibidores de apetite, diuréticos e laxantes.
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As pacientes anoréxicas geralmente passam a conhecer perfeitamente o conteúdo calórico de cada produto alimentício, inclusive decoram os dados da tabela nutricional. Pode haver também um costume de pesar tudo o que come.
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Há uma influência excessiva do peso corporal nos níveis de autoestima: os pacientes costumam apresentar piora da ansiedade, forte tendência à depressão e à retração social, além de baixa autoestima no dia a dia.
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Há a presença da prática excessiva e exagerada de exercícios físicos.
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Pode haver indução de vômitos.
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O desempenho acadêmico pode se deteriorar.
A anorexia prejudica significativamente a saúde física e o funcionamento psicológico e social da pessoa que sofre com a doença. No que diz respeito ao organismo desse paciente, podem ocorrer: desmineralização óssea com osteopenia e osteoporose (que aumentam o risco de fraturas); alterações cutâneas; distúrbios gastrointestinais; lesão muscular; letargia ou excesso de energia; hipotermia e hipotensão. Nos casos graves, pode ocorrer morte por problemas de função cardíaca.
Como você pode ajudar?
O Dr. Nikolas Friedrich Karl Heine alerta que a anorexia demanda um acompanhamento profissional especializado, e o primeiro passo nesse sentido é dar à condição uma relevância de doença, caso haja disfuncionalidade social, acadêmica, profissional, amorosa ou até familiar.
O médico psiquiatra segue explicando que o segundo passo necessário é iniciar táticas de sensibilização do indivíduo no que se refere às suas dificuldades e ao sofrimento que ele sente. “Demonstrar, sem atritos ou embates, de maneira empática, como a 'procura pela magreza' está causando sofrimento, evitando se colocar entre o indivíduo e o seu objetivo de emagrecer."
Ele continua: “O terceiro passo é apresentar formas mais saudáveis de satisfazer a 'procura pela magreza', por meio de acompanhamento nutricional e psicológico, e, por fim, manter o vínculo com o indivíduo e a adesão dele ao tratamento, por intermédio de uma aliança com o familiar ou o amigo, inserindo a possibilidade de um acompanhamento psiquiátrico.".
Vale ressaltar que o psiquiatra tem por objetivo técnico diminuir o sofrimento e e reinserir a funcionalidade à vida do paciente. Dessa forma, seu foco será avaliar possíveis comorbidades e oferecer o tratamento adequado para cada uma delas. “Para enfermidades de dimensão somática, endereçar o paciente à especialidade correta, com acompanhamento e esclarecimento da natureza do quadro ao profissional colega; para quadros psiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e transtorno de personalidade, empreender tratamento adequado para a remissão dos sintomas. Por fim, iniciar um longo trabalho de desenvolvimento de aliança e parceria empática, com o objetivo de esclarecer a natureza perceptual do quadro e minimizar sintomas purgativos, visando à funcionalidade e a um estilo de vida saudável", finaliza o chefe de equipe da Psiquiatria do H9J.
O Hospital 9 de Julho possui um corpo clínico especializado e reconhecido para identificar e realizar diagnóstico psiquiátrico adequado, proceder às avaliações multiprofissionais em nutrologia, endocrinologia, gastrologia, hematologia e cirurgia, assim como em psicologia, e desenvolver e manejar o cuidado necessário na parte aguda grave, podendo ou não se valer de ampla estrutura de internação hospitalar, visando à estabilização do quadro, e, por fim, acompanhar o paciente na fase de manutenção em regime ambulatorial.